Teatro: A Vida de Galileu

VIDA DE GALILEU
(BERTOLD BRECHT:1898 - 1956)


“GALILEU: Você entendeu o que eu lhe expliquei ontem?
ANDREA: O quê? Aquela história do Copérnico e da rotação?
GALILEU: É.
ANDREA: Não. Por que o senhor quer que eu entenda? É muita difícil, e eu ainda não fiz onze anos, vou fazer em outubro.
GALILEU: Mas eu quero que também você entenda. É para que se entendam essas coisas que eu trabalho e compro livros caros em lugar de pagar o leiteiro.
ANDREA: Mas eu vejo que o Sol de noite não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não está parado! Nunca e jamais.
GALILEU: Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos, e arregalar os olhos não é ver. (Galileu põe a bacia de ferro no centro do quarto). Bem imagine que isso é o Sol. Sente-se aí. (Andréa senta-se na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele) Onde está o Sol, à direita ou à esquerda?
ANDREA: À esquerda.
GALILEU: Como fazer para ele passar para a direita?
ANDREA: O senhor carrega a bacia para a direita, claro.
GALILEU: E não tem outro jeito? (Levanta Andrea junto com a cadeira do chão, faz meia volta com ele) Agora, onde é que o Sol está?
ANDREA: À direita.
GALILEU: E ele se moveu?
ANDREA: Ele, não.
GALILEU: E o que é que se moveu?
ANDREA: Eu.
GALILEU (berrando): Errado, seu burro! A cadeira!
ANDREA: Mas eu com ela!
GALILEU: Claro. A cadeira é a Terra. Você está em cima dela.
(A empregada entra para fazer a cama e assiste à cena).
DONA SARTI: Senhor Galileu, o que o senhor está fazendo com o meu menino?
GALILEU: Eu o estou ensinando a ver”.

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